Floresta

Ele tinha razão nem toda a gente ia achar o que eu estava a fazer uma boa ideia. Mas eu
sabia que existem pessoas que me possam apoiar. Mesmo que não conseguisse ninguém para
me apoiar eu ia continuar. Continuar até que consiga encontrar a cura disto...a cura daquilo
que ajudei a criar...

Á minha memória vieram imagens dos meus pais e do meu irmão...porque agora...porque?
Imagens horriveis que não queria recordar...Pus as mãos na cabeça e fechei os olhos com
força...

-Vão embora...não voltem...!

Disse, deixando-me cair de joelhos no chão e encolhi-me. Só queria que aquelas imagens
fossem embora.

Ouvi o que ela disse, e virei-me, deparando-me com ela de joelhos e assustada.
Aproximei-me dela ajoelhando-me.

- Eih, tem calma.

Agarrei nas mãos dela afastando-as da sua cara, encostando-a no meu ombro.

- Tem calma, tudo se vai resolver.

Sentia que a devia ajudar, não sei o porque mas aqui dentro de mim era o que devia de fazer e foi o que fiz.

Senti alguém agarrar-me. Era o mesmo rapaz de à pouco. Daito...Ele estava ajudar-me...

-Porque me ajudas...? Consideras-me tua inimiga e ajudas-me?

- Não faças perguntas as quais não sei responder..

Continuei a agarrar nas mãos dela, e continuava sem saber o porque de estar a fazer aquilo.
Mas agora, mais do que nunca, não queria largá-la até sentir que ela estava bem.

Respirei fundo, aquilo era estranho demais. O meu próprio inimigo estava ajudar-me. Fechei
os olhos e respirei novamente fundo, acalmei-me. Abri os olhos e fitei Daito com um ar sério.

-Ok...não farei mais perguntas...

Ao ver o olhar dela e sentir que já estava mais calma, larguei-a e levantei-me.

- Agora que já estás melhor vou andando.

Virei as costas para ela, olhando para a lua que começara a surgir.

Levantei-me também, sacudindo os joelhos das folhas secas que estavam acumuladas no chão.
Pensava no que tinha acontecido agora mesmo. Algo tão estranho...algo tão incomum. Endireitei-me
pegando na minha mala de tira-colo e colocando-a sobre o ombro. Pus uma madeixa de
cabelo atrás da orelha e cruzei os braços.

-É melhor ires embora...a floresta é perigosa à noite...

Disse, encolhendo ligeiramente os ombros.

Comecei-me a rir ao ouvir o que ela disse virando-me e espreguiçando.

- Não te preocupes comigo, eu sei viver durante a noite. Agora tu é que é melhor teres cuidado.

Ela não sabia nem metade da minha vida, do que eu já passei e então á
noite não faltam histórias de terror para contar.
Tive de aprender a ser assim, desenrascado, sem receios,
tive de habituar-me a este modo de vida que se instalou por causa de uns investigadores, aliás de uns assassinos.

Estava eu a passear por ali sem saber se iria para a toca ou nao, quando avisto alguem conhecido. Aproximei-me cuidadosamente pois persenti outra presença ali perto.

*baixinho*-Nya... E aquela rapariga do outro dia no lago! E quem é aquele?

Fiquei a olhar para o rapaz, nao o conhecia de lado nenhum. Olhava tao concentradamente que umas pedras começaram a levitar no ar, acabando uma delas por cair e fazer barulho.

Ouvi um barulho e entrei em modo de alerta. O meu cabelo ficou mais claro e envolvido em
electricidade assim como as minhas mãos.

-Quem está aí?!

Perguntei alto, estando sempre atenta ao ambiente em volta.

*para si*-Raios... fui apanhada!

Dei uns passos em frente.

-Nya...

Avancei ate a Mizuki.

-Sou eu... a Aika, do outro dia ao pe do lago...

Vi que era apenas aquela rapariga meia gato de mais cedo. Suspirei.

-Não assustes assim as pessoas! É feio ouvir as conversas dos outros...

Olhei para a rapariga que tinha aparecido misteriosamente, virando-me de costas para elas as duas.

- Raparigas.. *sussurrei*

Já estava a anoitecer e de repente a minha barriga fez um barulho de fome. Era hora de encontrar outra presa, e daqui a pouco o meu instinto para comer poderia tornar-se muito mau.

- Bem, acho que me vou embora.

-Nya... Aika nao estava a ouvir a conversa, estava a passar por acaso...

ha horas que nao comia nada e estava atenta a tudo o que se mexia ali perto, desde viados a outras coisas um pouco maiores e mais perigosas.

-Nya... Se foi por minha culpa, peço desculpa... Eu vou me ja embora! Nao precisas ir...

Virei costas e andei lentamente na direçao ao interior da floresta a murmurar coisas.

Tudo se passou tão depressa que dei por mim praticamente sozinha. Suspirei longamente.

-Sozinha outra vez? Bonito...

Suspirei novamente e ergui os braços no ar espreguiçando-me.

-É melhor ir-me embora....

Ouvi o que Mizuki disse e continuando de costas andando lentamente respondi.

- Não estás sozinha, tens imensos seres vivos á tua volta, podem não ser pessoas, mas acredita que a maioria das vezes são melhores companhias do que as próprias.

Ao dizer isto comecei a correr e fui para o meu lugar, o lugar dos designados monstros.

Ouvi o que Daito disse. Assim que ele desapareceu fiquei a pensar...talvez ele até tivesse
razão. Ás vezes os animais irracionais tornam-se melhores que o próprios humanos. Mas eu
ainda acredito que os humanos têm um lado bom no fundo. São capazes de se compadecerem
com a situação do próximo.

Respirei fundo e tomei o meu caminho, em direcção a minha casa.